sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Homens livres e shlichim

Aqui em Israel estamos no meio de uma guerra diplomática que foi aberta em várias frentes. Expulsamos o embaixador da Venezuela ontem (depois que o Huguito expulsou o embaixador israelense e vários shlichim da agência judaica de Caracas há algumas semanas). Fizemos com que o primeiro ministro turco abandonasse o fórum em Davos (depois de reafirmarmos o nosso direito a auto-defesa). E estamos pensando em alguma resposta para a decisão espanhola de processar oficiais do exército israelense por crimes de guerra (talvez seja essa a hora de pedir indenizações pelos judeus que os malditos avós dos espanhóis queimaram nas fogueiras da inquisição. Acho que isso configura um crime contra a humanidade, não?).
Enfim, espero que a vitória diplomática de Moshê no Egito (valendo-se de todos os meios de pressão disponíveis) na parashá dessa semana, possa nos iluminar.
Aliás, é nessa parashá que Moshê abre o segundo front de sua guerra: como tirar o Egito de dentro dos judeus. Como fazer com que 600 mil pessoas abandonem uma mentalidade de escravos?
A primeira medida (ou mitzvá, no vocabulário da psicologia do Tanach) foi o mandamento de santificar meses. No judaísmo os meses são lunares (numa antítese ao calendário egípcio pagão, baseado no sol), e quem declara o nascimento do mês é o tribunal central (que ficava ao lado do Beit HaMikdash) com base em testemunhas, que afirmavam terem visto a lua nova.
Ou seja: homens livres devem saber que eles tem o tempo em suas mãos. Somos nós que instituímos o nosso calendário (e consequentemente, as datas das festas, inclusive Pessach). Um escravo não precisa se preocupar com o relógio: o seu senhor se preocupa por ele. Mas nós somos homens livres, com todos os direitos e obrigações que isso implica.
A outra medida foi a instituição do Korban Pessach. Os judeus deveriam tomar um carneiro (que era idolatrado como deus pelos egípcios), amarrá-lo por 5 dias nos pés de suas camas, e sacrificá-lo e comê-lo no 5o dia. Que desparate aos egípcios! Onde já se viu? Matar e comer o deus alheio (ironia do destino: foi essa mesma acusação que a igreja católica carregou contra nós por 2000 anos). É verdade que devemos respeitar as idéias alheias, mas há um limite de quanto podemos tolerar – principalmente dentro de nossas casas.
Dentro de nossas casas nós somos soberanos, e não podemos aceitar qualquer influência cultural pagã. A ousadia é o contrário da submissão escrava.
Por fim. As leis do sacrifício de Pessach são a base do conceito de sociedade e “shlichut” (representação; procuração).
Duas famílias com poucos integrantes podiam dividir as despesas na compra de um único carneiro para ambas (a sociedade). E quando o representante da família sacrificava o carneiro, ele isentava toda a sua família da obrigação de sacrifício. Por mais que a Torá obrigou todos os judeus a sacrificarem carneiros, um único judeu podia representar e cumprir a obrigação de vários outros (que o nomeassem como “sheliach”). Nas palavras do Talmud: “Shlicho shel adam kemoto”. “O procurador de uma pessoa é como ela própria”.
Esses conceitos de sociedade e representação são a base do conceito de um povo e de uma nação. São a base de uma filosofia coletiva, onde existe um pacto social e uma obrigação mútua entre um grupo de pessoas. Parte do processo de virarmos indivíduos livres, é entendermos que fazemos parte de um povo, com o qual compartilhamos um passado e um futuro comum.
E é exatamente esse conceito que se esconde por trás de toda ofensa diplomática: quando o Chavez expulsa os enviados da Agência Judaica de Caracas, ele está enviando uma mensagem a todos os judeus do mundo, que são representado por eles. A mesma coisa com a decisão do juiz espanhol e os oficiais do exército de Israel. É exatamente por isso que a nossa resposta deve ser dura e exemplar. Por que nós somos homens livres.

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