quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mais vale um na mão

Certamente você já se deparou em alguma situação em que gostaria de poder escolher, entre duas opções, as duas. Viagens, projetos, decisões, faculdade, e por aí vai.

No Talmud, dois grandes rabinos discutem sobre o dia da leitura da meguilá: isso deveria seguir duas conduções básicas. No entanto, em certo caso, devido a uma combinação de fatores, somente uma das regras poderia ser seguida. O que acontece no final é que cada um escolhe uma data, baseado em uma regra - e cada um decide algo diferente do outro. Quando um questiona o outro o porque da decisão, ambos dizem: não teve outro jeito de fazer! E sobre opiniões contrárias, nossos sábios dizem que ambas são verdadeiras, mesmo que opostas.

Às vezes, queremos abraçar o mundo todo. Escolher o máximo de coisas possíveis. Fazer o bem a muita gente. Mas nem sempre as condições permitem, nos forçando a abrir mão de alguma coisa. Escolhemos. Começam então as dúvidas e os questionamentos sobre como teria sido escolher o outro lado da bifurcação. É aí que devemos lembrar da frase de nossos sábios: ambos caminhos são bons, verdadeiros, e no fim das contas, qualquer um dos caminhos escolhido representa Sua vontade: o bem de cada um de nós.

Por isso, quem deseja pouco as vezes alcança mais do que quem deseja muito.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Helenização? Não, obrigado

Em um país como o Brasil, é interessante ver quanta gente diferente convive junto. No meio universitário, isso é reforçado pelo número considerável de alunos de pós-graduação que saem de seus países ou por alunos de intercâmbio. Ontem tive a oportunidade de conversar com uma professora, que me explicou o motivo de seu sobrenome um tanto diferente: seu pai é de origem grega. Até ai, tudo bem.
Papo vai, papo vem, ela conta que já esteve em Israel. Até ai, tudo bem. Afinal de contas, não são raros congressos mundiais em Israel (isso sem falar nas universidades de ponta que existem por lá). Quando perguntei quais cidades ela visitou, logo disse: Holon, Hevron, além das óbvias Jerusalém e Tel Aviv, entre outras. Origem grega?
Sim. O problema é que só seu pai. Sua mãe é judia, e portanto, ela também. Ao perguntar se ela sabia que era judia, ouvi um "já ouvi dizer por ai" bem despreocupado. Quantas pessoas, assim como ela, devem existir só aqui no Brasil, que são iehudim e não sabem? Quanto disperdício. Possuímos uma das mais antigas culturas do mundo, temos o copyright do livro mais vendido no mundo, e muitos por ai nem dão valor. Não consigo imaginar o número de iehudim que sabem e não dão valor, e muito menos imaginar outro número, maior ainda: o de iehudim que nem sabem de sua essência. Tanta dor não entra na minha cabeça.
O que sim está na minha cabeça é a resposta para isso: enquanto não estivermos todos em Erets Israel, e ("e", não ou) seguindo nossos princípios milenares, estaremos sujeitos a ver a próxima geração com sobrenomes um tanto diferentes.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Lag Baomer: mais de vinte séculos, lições atuais

Hoje é Lag Baomer, o trigésimo terceiro dia da contagem entre Pessach e shavuot. Foi no mesmo dia que hoje que pararam de morrer, há quase dois mil anos, os alunos de Rabi Akiva pela falta de respeito um com o outro. É hoje também o aniversário de morte de Rabi Shimon Bar Iochai (um dos 5 alunos que sobraram de Rabi Akiva após a peste). Ele foi o autor do livro base da tão comercialmente explorada kabalá, e quis que seu aniversário de morte fosse comemorado com muita alegria.

Um dos símbolos que representa este dia é o arco e flecha. A explicação para isso é que na época de Rabi Shimon Bar Iochai os judeus eram proibidos de estudar Toraá Como é impossível um judeu se desligar da Torá, eles A estudavam escondidos. Quando os guardas do imperador vinham ver o que estavam fazendo, sacavam cada um seu arco e flecha e fingiam estar treinando.
Mas o arco e flecha não nos passa somente a mensagem da resistência espiritual (e hoje em dia, da liberdade e da vitória do povo judeu sobre aqueles que tentaram destruí-lo). Ele transforma toda a energia potencial em movimento. Quanto mais pra trás a flecha vai, maior é a distância que ela alcança. Quanto mais esticada a corda, mais energia armazenada.

O mesmo vale para cada um de nós. Quanto mais afastada do judaísmo uma pessoa é, maior é seu mérito ao cumprir qualquer mandamento, e maior é sua recompensa. Nós vivemos distantes de Israel, no "fim do mundo à esquerda" do judaísmo, e convivemos com tantas outras culturas. Cada pequena mitzvá cumprida, justamente por ser mais difícil e suada, é muito mais considerada, e suas consequências, físicas ou não, conseguem chegar muito mais longe.
Dessa maneira, o arco e flecha também simboliza esperança. O judaísmo não vê o sofrimento/dificuldades de forma negativa: D'us faz tudo para o bem, com o objetivo de transformar a pessoa, buscando um crescimento pessoal (leia "Eu quero! Eu quero!"). Que quando 'nossas cordas estiverem esticadas', olhemos um pouco para o futuro, imaginando a flecha indo bem longe, e assim recebendo mesmo as dificuldades com amor a D'us.