sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Matisyahu de volta

Adoro Matisyahu. Letras inteligentes, que fogem da inércia, com um toque sutil de alguns conceitos importantes do judaísmo são encaixadas harmoniosamente no reggae pelo artista de Crown Heights, NY. Com a imagem de um chassid Chabad, com direito a chapéu e longos fios de tsitsit pra fora da calça, Matisyahu envolve o público pluralista em seus shows através do beatbox, de versos cantados em hebraico ao som dos melhores nigunim (ritmos judaicos), e da música em que não esquece seu povo, sua terra e sua cultura de atitude. Apesar de muitos ortodoxos criticarem seu trabalho, considero-o um exemplo: comida kasher nas turnês, nada de show no shabat, uma mensagem muito bonita na música, e participação com outros artistas, independente de cor ou religião.

No começo desse ano ouvi que ele estava se afastando do judaísmo, notícia que, ao mesmo tempo em que me deixou muito chateado, não me surpreendeu tanto. Não deve ser fácil viver nesse meio artístico corrompido e conturbado. Não desconfiei tanto das notícias já que não ouvia novidades sobre o cantor – nenhuma single nova, nenhum álbum novo.

Mas essa semana ouvi uma noticia que me deixou feliz na mesma intensidade que a outra me deixou triste. Depois dos discos Youth, Live at Stubb’s e No Place To Be, o cantor lançou no dia 20, após mais de um ano e meio de espera, seu mais novo CD: Shattered (Estilhaçado, em português). Matisyahu continua estilhaçando a música tradicional chassidi, onde algumas palavras se repetem durante bons minutos com ritmos e instrumentos parecidos. Composto de 4 músicas, o disco apresenta Shmash Lies, que foge do reggae e tendendo ao rap (lembrando sua música no disco mais novo do P.O.D.); So High So Low parece mais uma música do Red Hot Chilli Peppers, demonstrando um pouco do pop (presente no remix de Jerusalem); Two Child One Drop (que começa com uma frase do Tehilim 121) e I Will Be Light preservam o reggae. É possível escutar as musicas inteiras no site.

Que alívio. Cansei de gente falando mal dos outros. Matisyahu está de volta e, pelo que pude ver pelas fotos no site, mais forte do que nunca. Aparentemente, não está mais se vestindo com as roupas preto-branco nem com o look Chabad. Além do tsitsit pra fora e barba, Matisyahu aparece com longas peiot e uma kipá ao melhor estilo chassidish. Como é bom ver gente que agüenta firme mesmo nas condições mais adversas.


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Judaísmo 3G

Se você tem a idéia de que os religiosos ainda vivem anos-luz atrás de pessoas modernas, pode estar enganado. Ao falar sobre um dos itens que estão no top 10 de aparelhos eletrônicos, o iPhone, encontramos uma série de programas (applications, ou simplesmente apps) muito úteis (ou não tanto) no dia-a-dia de muitos iehudim. Algumas delas funcionam melhor no iPhone 3G, em função do GPS estar presente somente na versão mais recente do aparelho.

Clique nos seguintes nomes para abrir a página do programa na AppStore (precisa do iTunes pra abrir): Sidur, Pocket Luach, Tehilim, Shabbat, KosherMe, Tefilla Pack, ParveOMeter, Zmanim. iBlessing, iCharity e Shofar.


Clique na imagem abaixo para visualizar melhor a lista com uma breve explicação, utilidade e preço.

sábado, 25 de outubro de 2008

Iniciando novamente

Hoje estivemos no começo de um ciclo mais uma vez. Após dançar em Simchat Torá, onde comemoramos o término da leitura das 54 parashiót (porções) da Torá, chegamos no shabat em que se lê a primeira parashá, Bereshit. Quero compartilhar uma ideia que ouvi.

A criação do mundo é contada no primeiro capítulo do livro. Lemos a criação dia após dia até chegarmos ao fim do sexto dia de chól (sem santidade), quando “se formaram os céus e a terra e tudo o que a preenche”. Temos então o ápice. D’us pára tudo o que estava fazendo e por isso santifica o sétimo dia, o shabat. Existe uma pequena, porém significativa diferença entre a divisão de capítulos da Torá, uma passada pela tradição judaica e outra pelos cristãos (hoje em dia, com poucas exceções, utilizamos livros que apresentam a divisão cristã). A diferença entre eles é que na tradição judaica o shabat é narrado no primeiro capítulo, e na cristã o shabat começa em um capítulo novo. Legal. E daí?

Não sei se é por acaso. Mas isso representa muito bem o estilo de vida judaico, muito diferente do que outras religiões pensam. Tudo aquilo que é sagrado, como o shabat, está junto com o cotidiano, com o dia-a-dia, com o chól. Em cada ação desprovida de santidade devemos ter a intenção de elevá-la, transformando o físico em algo mais que mundano. Ao acordarmos, agradecemos a alma devolvida. Ao invés de rezar uma vez por semana, rezamos três vezes por dia. Ao comer ou beber cada coisa, agradecemos a D’us e elevamos a comida. Ao viajarmos, pedimos a Ele que tudo ocorra em paz. Confortando alguém, trazemos tranqüilidade e conseqüentemente a presença divina para esse mundo. Antes de dormir, pedimos bons sonhos. Nenhuma religião é mais prática, mais desse mundo do que o judaísmo: chól e kodesh sempre andam juntos. No judaísmo, o chól e o kodesh estão no mesmo capítulo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mazal tov

Ontem pude participar de uma atitude de Chessed (bondade) em massa.

Um casal de amigos - uma paulista e um carioca - quebrou o copo pra alegria de todos. O problema é que o noivo morou em Israel nos últimos três anos, e antes disso, no Rio. Em outras palavras, uma boa parte de seus amigos não pôde estar presente. Por isso tinha muita gente preocupada em como fazer a grande mitsvá de alegrar o noivo no dia do casamento, já que a noiva é quem iria estar rodeada de amigas.

Mas a preocupação deu resultado. Muitos amigos da noiva foram chamados, e mesmo conhecendo o noivo no próprio dia, não deixaram a desejar. Posso dizer que foi uma das festas de casamento mais animadas em que estive. É difícil imaginar mais de 100 homens dançando juntos em um estado de alegria indescritível pelo próximo. Dá pra ter uma pequena (mas bem pequena) noção do que foi pela foto.

Alegrar o noivo quando ele é nosso amigo é fácil. Difícil é dançar com quem você nunca viu antes em um dos dias mais importantes para ele. Tenho certeza que os que foram sem conhecer o noivo saíram mais felizes do que entraram.

Assim que é no mundo da Torá: as Mitzvót estão aí para serem feitas no nosso dia-a-dia, mais próximas e fáceis do que a gente imagina. Não é nada de outro mundo - foram dadas pra seres humanos capazes de realizá-las. Além de ajudar os outros, a gente ainda sai ganhando.

Mazal tov!


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Show de bola!

Semana passada decidi ir ao Museu do Futebol. Depois de alguns meses de reforma no estádio do Pacaembu, ficou pronto o projeto idealizado por José Serra quando ainda era prefeito. Demorou para o Brasil ter um bom museu em um de seus estádios, a exemplo do 'museo de la pasion boquense', no estádio da Bombonera em Buenos Aires, e dos grandes times europeus, cujos estádios são muito mais que um gramado e uma arquibancada.

Os preços pagos na bilheteria são muito acessíveis: R$ 6, ou R$ 3 a meia entrada. O hall de entrada é grande e decorado com diversos quadros temáticos por todas as paredes, chegando facilmente a 200 quadros. Antes de entrar na exposição permanente, é possível visitar a exposição temporária, cujo tema é o rei do futebol: Pelé. Fora os vídeos de gols e imagens da carreira do jogador, há muitos objetos de alta importancia no mundo da bola, como camisetas usadas por Pelé (no Santos, na seleção e no New York Cosmos), trofeús entregues pela FIFA e outras autoridades, além da bola original do milésimo gol.

Ao longo do museu, de percurso único e mais de 6 mil m², há várias salas, cada uma com um enfoque diferente. Algumas me chamaram muito a atenção. 'Exaltação' se situa debaixo das arquibancadas e entre as estruturas metálicas do estádio, onde mais de quatro telas mostram simultaneamente a vibração das torcidas pelo país. A impressão que se tem com o show de imagens aliado ao eco das torcidas é um espetáculo para os amantes do futebol. A 'Sala das Copas' possui colunas formadas por painéis, fotos, vídeos e dados históricos da época de cada copa, com destaque para as cinco vencidas pelo Brasil. Visualmente muito atraentes e carregadas de muita informação.

Por todo o museu, alguns itens se entrelaçam, fazendo o futebol ser interessante até para quem não sabe quem é 'aquele cara de preto': a tecnologia, muito bem utilizada em diversos tipos de mídia (vídeos, sons, painéis interativos, cinema 3D, simulador de penaltis); a história, retratando a introdução do esporte no fim do século XIX e o que ocorria no Brasil e no mundo na sala das copas; e o design, que é ao mesmo tempo moderno, multicolorido e simples, e consegue levar conceitos básicos ou complexos do futebol a qualquer desentendido.

Duas horas não foram suficientes para ver tudo com calma. Vale a pena reservar um bom período para aproveitar bem. Fiquei muito contente por ver que o museu é estruturado para cegos: no piso há indicadores de caminho, e braile em diversos painéis. Diferentemente da seleção nos últimos tempos, os idealizadores do Museu do Futebol levaram a história do futebol brasileiro pra frente com um gol de placa.

domingo, 19 de outubro de 2008

Lechaim?

De uma maneira geral, tudo o que faço passa antes por uma avaliação que chamo de “risco-benefício”: o que vou ganhar em relação ao quanto vou me arriscar. Considerando que a chance de eu me machucar gravemente em um esporte é muito baixa em relação às coisas boas que ele me proporciona, mantenho altas as concentrações de endorfinas em meu corpo.

O mesmo valeria para a questão do álcool em Simchat Torá. O que se pode alcançar com ele pode até ser benéfico (mesmo que em qualquer esquina brasileira, no mais baixo chol, qualquer um também pode). Inicialmente, vale lembrar que, diferente de purim, onde há discussões se é permitido beber, não encontramos nenhuma base para isso na Torá para a festa em questão. Apesar de acreditar que a alegria verdadeira de Simchat Torá, como o próprio nome diz, deve vir do nosso prazer por ter estudado ela ao longo do ano, respeito a opinião de que podemos ficamos mais alegres facilmente, podendo direcionar essa alegria leshem shamaim – desde que o número de doses esteja dentro de um limite saudável.

Até esse ponto, tudo ótimo. Mas sempre surgem dois problemas. Sempre. O primeiro é que esse respeito não é recíproco. Quem se alegra com o álcool deseja forçar um lechaim para quem se contenta com as músicas e seus conteúdos. Será que eles não entendem a minha verdadeira simchá? Em segundo lugar, são poucos aqueles que se controlam (menos ainda os que conseguem controlar os outros – não me sinto bem cuidando de bêbados). Oferecer vodka a um grupo de 10 crianças na idade de colegial é certeza de que ao menos um irá passar dos limites. Decorrente desse abuso, já vi resultados baixos o demais com meus próprios olhos. Por isso, chega de tzitziot sujos de vômitos, de sifrei Torá molhados de smirnoff, e de iehudim caídos na sinagoga no sagrado Yom tov. Isso não tem nada de kodesh. Chega de open bar pra atrair a galera.