quarta-feira, 8 de abril de 2009

Aficoman

Sem dúvida o Seder de Pessach é uma das maiores criações pedagógicas judaicas. Uma aula interativa que se vale de todos os recursos sensoriais e psicológicos para incutir o sentimento da redenção dos judeus do Egito nas novas gerações
Portanto existem no Seder vários pequenos detalhes que podem passar desapercebidos por um observador desatento. Um deles é o Iachatz.
Na frente do condutor do seder existe uma Keará (bandeja) sobre a qual, entre outras coisas, se encontram 3 matzot. Após comermos o Karpas (a batata ou o salsão mergulhado na água com sal), o condutor do seder agarra a Matzá central e a parte na metade, e esconde metade dela para o Aficoman (que é procurado pelas crianças no fim do Seder).
Esse costume enigmático representa mentalidade de escravos com a qual iniciamos o Seder. Ao vermos um pouco de comida na nossa frente, guardamos metade para amanhã. Quem pode ter certeza se amanhã teremos mais? Somos como refugiados de guerra que temem pelo futuro incerto.
Porém quando chegamos ao fim do Seder, após termos lido a Hagadá e jantado, passamos por uma transformação. Agora não somos mais escravos: somos homens livres. Agora não tememos pelo amanhã: nós confiamos plenamente que o mesmo D-us que nos tirou do Egito irá nos garantir a janta de amanhã.
Portanto, quando chegamos ao fim do Seder, mandamos as crianças buscarem o Aficoman, e o comemos sem pensar duas vezes. Aliás, de acordo com a Lei Judaica o Aficoman precisa ser comido antes da meia noite. É proibido manter a “cabeça de escravo” por tempo demais.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

[livros] - Desvendando o Homem

Foi lançado, essa semana, o livro Desevendando o Homem. O autor, Rabino Samy Pinto, explora o pensamento do Maharal de Praga sobre a educação. Entre outros assuntos abordados, é dada ênfase ao amor necessário à educação de cada indivíduo, antes de se pensar na educação de uma comunidade inteira.
No evento estavam presentes, entre líderes da comunidade, o educador e vereador mais votado das últimas eleições, Gabriel Chalita (vale a pena ler seus textos), e um professor da Universidade Bar Ilan (Israel). Rabino Samy Pinto possui bacharelado em Economia pela Faculdade de Ciências Econômicas do Rio de Janeiro, é especialista em educação pela Universidade Bar Ilan, e pH.D. em Letras Orientais pela USP.
O livro pode ser comprado na Livraria Sefer. Transcrevo aqui a contra-capa do livro, escrita por Gabriel Chalita.
"O livro do Rabino Samy Pinto é uma obra-prima, uma reflexão cuidadosa sobre a complexidade do sistema educacional e a sua relação com a essencialidade humana: a felicidade. A felicidade humana é a nossa maior vocação. Sua definição é simples e, paradoxalmente, complexa. Ser feliz é ter virtudes. É amar ao outro e a si próprio. A felicidade contempla o bem e nos faz ser bons. Ilumina com sabedoria e nos faz conviver, compartilhar a vida harmoniosamente com outros seres humanos. A sabedoria nos ensina a moderação e a compreensão. Moderamos os nossos apetites e compreendemos o outro, que não é o resultado de nossas projeções, mas é sujeito de sua própria história. Essa felicidade nos leva a viver em paz. Paz interior e paz social.
E é esse o nosso sonho. Transformar a nossa vida num serviço, superando vícios e construindo virtudes. A ética, caminho único para a felicidade, segundo Aristóteles, nos conduz por essas sendas. A riqueza do meio termo, do equilíbrio, do respeito na edificação de um mundo mais harmonioso.
E a educação é o melhor caminho para que a potência humana se concretize em ato. Tudo vem dos bons hábitos semeados durante a infância e a adolescência. Daí a importância crucial da educação como agente de transformação e elevação do ser humano. A reforma educativa judaica proposta pelo Rabino Maharal nasceu das inquietações desse filósofo da educação que, observador crítico do sistema educacional ashkenazita da época, ansiava por uma pedagogia transformadora, humanizadora e intelectualista. A educação sempre foi objeto de investigação de homens iluminados. São os entusiastas. Entusiastas como Maharal, entusiastas como Samy Pinto, que nos presenteia com este brilhante trabalho sobre a trajetória de um educador que preconizava que as "boas raízes jamais permitirão que árvores caiam e que seus frutos deixem de alimentar a sociedade". O Rabino Samy Pinto é a prova disso. Consegue unir densidade acadêmica, discurso e prática a serviço do outro, do seu encontro com a vocação primeira, ou seja, a felicidade plena."