quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Indignação atemporal

Em geral, evito falar de política, mas a não ser que eu fosse um alienígena seria impossível deixar isso de lado depois dessa semana. Por dois motivos: O isralense adora política. Quando estudava na Poli, lembro que o único jornal que entrava na sala de aula era o 'Lance!': "política é coisa do pessoal da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas)". Acho que no mundo inteiro o campo das ciências exatas é um pouco alienado da política, mas aqui é um pouco diferente. Nem a faculdade de matemática se salva. Os números pertencem a partidos. E principalmente nessas semanas, quando a trégua com o Hamas termina, os mísseis voltam a cair sobre Sderot e as eleições se aproximam. Os partidos organizam as primárias (características do sistema parlamentarista, estranhíssimo para nós brasileiros... democrático demais).
Mas há um outro agravante nessa semana: Chánuca. O sionismo laico a transformou em uma festa cívica: um símbolo do espírito judeu que grita pela liberdade contra gregos opressores. As emissoras de televisão inserem o acendimento de velas na programação e as partidas de futebol nessa semana incluem o acendimento da chanukiá antes do jogo. Talvez muitos israelenses sequer saibam que há um mandamento de acender velas no Shabat, mas sem dúvida sabem a brachá do acendimento das velas de Chánuca.
Na minha humilde opinião, Chánuca vem exaltar o idealismo. É a derrota dos pragmáticos. Chánuca não foi apenas a vitória dos judeus sobre os gregos: foi a vitória dos judeus sobre os helenistas. Da minoria sobre a maioria. A beleza de Chánuca é que um senhor de idade chamado Matitiahu não estava disposto a aceitar a realidade como ela era. Apesar de sua idade, ele manteve a capacidade quase única dos jovens de se indignar. É óbvio que os velhos não se dispuseram a segui-lo. Os pragmáticos sempre estão dispostos a tachar qualquer idealista de fanático, mas os jovens (comandados pelos seus filhos, entre eles Yehudá HaMakabi) escutaram a sua voz e puderam trazer o orgulho de volta a Am Israel, e graças a eles acendemos as velas na semana que vem.
Queira D'us que esse Chánuca possa iluminar todos os nossos líderes. Como nas palavras do Milton Nascimento: "Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração... Pois não posso não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver. E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal". Seja essa sacanagem um caso de corrupção, a imposição de outra cultura, ou mísseis caindo sobre Sderot.

2 comentários:

Ruben disse...

Que os Gregos voltem a Grécia e os Troianos a Tróia.

Natan Rolnik disse...

E somos nós que ficamos literalmente para contar a história...