quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Águas de Chánuka

Finalmente chegaram as chuvas. Depois de algumas semanas de espera (vários rabinos daqui decretaram, frente o quadro de estiagem, que era necessário acrescentar um trecho a mais na reza diária, pedindo por chuvas) abriram-se os alçapões do céu. Hoje cheguei encharcado no meu apartamento!

É difícil para filhos de um "país tropical abençoado por Deus" entenderem a importância da chuva. Alguém que fica preso por uma hora num engarrafamento nas marginais e tem a oportunidade de contemplar o volume imenso de água que é poluído e desperdiçado, inconscientemente acaba banalizando a importância da água. Lembro da sensação que acompanhava a chuva na cidade da garoa. A desilusão de ter que ficar em casa, ou de perder um fim de semana na praia. Quando vi as pessoas aqui em Israel, com um sorriso estampado na cara, e algumas fazendo questão de andar sem guarda chuva pra sentir na carne a tão esperada chuva, me dei conta de o quão infantil era a minha decepção tropical.

Porém a pergunta fica no ar: porque a terra que de acordo com a Torá foi escolhida e abençoada por D'us precisa ficar a mercê de estiagens? Se a terra é tão abençoada assim, porque D'us não colocou o Amazonas aqui no meio? Moshe foi o primeiro a descrever esse paradoxo, quando disse que "essa terra, na qual vocês irão entrar, não é como o jardim verde do Egito". Em outras palavras: o rio Yarden (Jordão) não chega nem perto do Nilo. Os rios e o regime fluvial representam os regimes cíclicos: as cheias e as entre-épocas. Por outro lado as chuvas representam o inesperado. A terra de Israel não se apoia em rios, mas em chuvas; ela se apóia na bondade de Deus. E a recompensa divina está condicionada ao nosso comportamento.

No Egito, todos tem a mesma recompensa: sejam bons ou malvados, a cheia do Nilo será idêntica a do ano passado. É como aquele pai que ao invés de gastar um tempo para o seu filho, lhe dá uma mesada gorda, coloca uma telvisão no seu quarto e assim se livra de qualquer chateação. Aqui em Israel pode ser que a nossa mesada não seja tão gorda, mas nós temos uma linha direta com o Manda-Chuva (nos dois sentidos). Porque quem ama, educa.

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