terça-feira, 24 de março de 2009

Livros ambulantes

Me canso de algumas coisas no meio acadêmico. Apesar de ter contato com professores super simpáticos, não aguento mais ver aqueles pH.D's que sabem muito sobre suas áreas de pesquisa, mas sequer sabem se relacionar com seus alunos. Publicam vários artigos por ano, mas não sabem agradecer os faxineiros que possibilitam a limpeza em seus laboratórios; dão palestras em mega congressos, mas se esquecem que cada um que está lá o admira; trabalham com genes, proteínas, números e exames, mas esquecem que tratam de pacientes.
Na última semana, lemos sobre a construção do mishkan. D'us ordena a Moshe que aqueles que deveriam construí-lo fossem chacham lev - inteligentes do coração. A princípio, muito contraditório. A inteligência é representada pelo cérebro, enquanto que o coração representa os sentimentos. Aparentemente, uma coisa nada tem a ver com a outra, já que para transformar a materia prima no produto final, para construir algo físico, somente o conhecimento técnico é necessário.
No entanto, a própria história do nosso povo nos mostra que o conhecimento não é somente uma coleção de ideias e conteúdo. Como realizadores do holocausto, engenheiros civis construíram câmaras de gás e crematórios, químicos desenvolveram o gás zyklon B, conhecedores de conceitos médicos (que jamais podem ser considerados médicos) faziam experimentos (?!) com seres humanos. Eu poderia dizer que todo o conhecimento que eles possuíam foi jogado fora, desperdiçado, mas isso seria um erro. Pior do que desperdiçar um recurso é utilizá-lo para um fim indevido.Até o momento em que alguém inteligente a utiliza para fazer o bem, de nada vale seu conhecimento. Afinal de contas, no campo prático, o inteligente que não faz o certo e o bobo que também não faz o certo, estão na mesma. Um burro de carga que carrega uma pilha de livros em suas costas continua sendo um burro de carga.
Cada chacham lev foi escolhido porque sabia conciliar seu conhecimento ao comportamento e às relações humanas. D'us não queria de forma alguma que sua morada fosse construída por pessoas que, por mais que fossem geniais e fizessem o trabalho da melhor maneira possível, não soubessem se relacionar uns com os outros. Devemos aprender com eles e proceder da mesma maneira. Devemos fazer com que a distância de 20 cm entre o coração e o cérebro se torne menor ainda.

Um comentário:

Unknown disse...

Engraçado que justamente ouvi isso numa aula esta semana..

Existem dois valores que não podemos viver sem: humildade e paciência!

Ser humilde não significa ser burro, se deixar ser passado por cima..

Muito pelo contrário, mostra que vc, independente de quem seja, sabe reconhecer o valor de cada ser humano por aquilo que ele é e faz.

Ter paciência é mais do que uma virtude. É a garantia de não nos deixarmos levar pelas pressões do dia a dia, que muitas vezes tornam nossos atos destrutíveis.