quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Voltando às fronteiras


Domingo à noite fui a um casamento em Jerusalém. Muito bonito por sinal. Ambos os noivos eram Olim Chadashim (o noivo do Uruguai e a noiva do Brasil), e a Chupá e a festa foram no kibutz (ou ex-kibutz) de Ramat Rachel. Esse é o bairro mais ao sul de Yerushalaim. A sul dele fica a cidade de Beit Lechem (vulga Belém), onde está enterrada Rachel (que inclusive dá o nome ao kibutz). É verdade que qualquer túmulo antigo emociona um judeu (e quanto mais antigo, mais emociona, em uma função de derivada positiva, crescente e monotônica), mas o Kever Rachel é especial em alguns aspectos.

Naquele lugar as emoções se confundem. Rachel faleceu enquanto dava à luz Biniamin, o único filho de Yaakov que nasceu em Israel – o caçula queridinho por todos os outros irmãos. O pai da tribo em cujo território ficava Yerushalaim e o Beit HaMikdash (templo). Tristeza e esperança ao mesmo tempo. Essas sensações continuam se confundindo nos últimos 60 anos, pois esse kibutz, que hoje em dia floresce e é palco de casamentos, até 1967 ficava na fronteira com a Jordânia e perto do lugar onde foi a Chupá existe uma escultura pelos soldados que caíram nas batalhas travadas em 48 e 67. Enfim é possível misturar as lágrimas de alegria com as de tristeza.

Irmiahu, o profeta, descreve que quando o povo judeu foi levado à diaspora nos dias dos babilônios, eles passaram na frente do túmulo de Rachel, e ela chorava pelos seus filhos que eram levados embora. Porém o profeta não para por aí e avisa a sua mãe: "Que a sua voz pare de chorar e os seus olhos não tenham mais lágrimas. Pois existe um mérito pelas suas ações, e seus filhos voltarão a suas fronteiras" - Veshavu banim ligvulam. Yerushalaim por si só já é um lugar apropriado para casamentos, conforme cantamos em qualquer cerimônia de casamento (seja em Beer Sheva, em Madrid ou em Higienópolis), "Od ishama beharei Yehuda ubechutzot Yerushalaim, kol sasson vekol simchá, kol chatan vekol kalá", mas é difícil imaginar um lugar melhor que Ramat Rachel para um casamento entre dois yehudim que voltaram para as suas fronteiras.

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