quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Prefiro ser essa metamorfose ambulante

Até parece de propósito. Quando o segundo semestre está chegando ao fim no Brasil, nós começamos o primeiro semestre aqui em Israel (ou igual eles chamam aqui, o semestre do inverno de 5769. Acho que foi uma das poucas vezes que notei o calendário judaico sendo usado entre não-religiosos aqui em Israel).

Essa semana me mudei de Yerushalaim para Haifa (ou Cheifa, como descobri que os israelenses chamam a cidade). Dois mundos bem diferentes entre si. É verdade, as duas cidades ficam em montanhas. Mas as semelhanças param por ai. Uma fica no meio das montanhas de Yehudá e a outra tem vista pro mar (e que vista!). Uma é a cidade das pedras e a outra, das árvores. Uma é o umbigo espiritual do mundo, a outra o umbigo industrial de Israel. Pra realçar um pouco mais o contraste, saí do ambiente de uma yeshivá para o ambiente de uma universidade.



No meio de todas essas mudanças me deparo com a parashá das mudanças: Lech Lecha! O Netziv de Volozhin tem uma idéia muito bonita: ele explica que conforme Avraham conseguia superar os desafios que surgiam, adquiria habilidades que iam ficando incrustadas em sua identidade. Cada um desses desafios era um brit, um pacto. Um pacto que D’us reafirmou varias vezes com Avraham. Uma demonstração, e ao mesmo tempo, uma evolução no vinculo entre ambos, que ficava cada vez mais intenso.



Um pacto é uma interação entre D’us e um homem, onde alguma característica é modificada ou acrescentada ao homem. Pois bem, cada desafio pelo qual Avraham passou modificou sua essência e lhe acrescentou novas qualidades. O Netziv desenvolve essa idéia e explica que todas essas qualidades adquiridas foram transmitidas aos filhos de Avraham: a Bnei Israel, e que as forcas extraordinárias que nosso povo demonstra para construir e se reerguer frente às situações mais difíceis, vem desses desafios que Avraham superou. A primeira delas foi sua mudança de Charan para Eretz Cnaan. "Lech lecha meartzecha" - Sai da sua terra.



Mudanças, não importa de que tipo sejam, são eventos traumáticos. Pode ser uma mudança de uma cidade para a outra (ou de um país para outro), pode ser uma mudança de um curso para o outro, ou ainda, a mudança de um estilo de vida para outro. Não importa qual seja a mudança, ela sempre irá envolver a quebra de um referencial. Avraham adquire uma habilidade de sempre encontrar um referencial absoluto, que era válido para todas as circunstâncias (assim como a velocidade da luz...). Avraham desenvolveu uma fé completa em D’us que lhe permitia encarar qualquer situação ou cenário como se fosse apenas uma pequena variacao de um mesmo jogo.



Incrivelmente, quando acordei hoje de manha, aqui em Cheifa (a uns bons 120 km de Yerushalaim e uns 6 mil km da cidade da garoa) fui pro Beit HaKnesset que existe aqui no campus e encontrei o mesmo minian com a mesma tefilá, e os mesmo sidurim que eu via no Brasil ou em Yerushalaim. Um baita de um referencial. Alias, o Beit HaKnesset daqui é lindo, e é o primeiro que eu conheço onde a pia pra lavar as mãos dos cohanim é ativada por um pedal no chão. Uma sinagoga em uma universidade de engenheiros precisava ter alguma inovação, né?

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