segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Mastros no Mar Vermelho

Para nós, yehudim, globalização não é uma novidade. Judeus de todos os cantos do mundo vivem em sincronia, através de um mesmo calendário e um mesmo estilo de vida. É exatamente essa característica que ajuda a absorção de um yehudi em qualquer canto do mundo: sempre é possível encontrar algo que relembre a nossa casa (as mesmas rezas, os mesmo livros, os mesmos costumes, e até mesmo as mesmas piadas).
Porém existem diferenças, especialmente em Israel. A vida judaica aqui adquire um caráter nacional, o que a enriquece muitíssimo. Shabat passado lemos na Torá o "Az iashir" - a canção que o povo judeu cantou após a abertura do mar Vermelho, comemorando e agradecendo a bravura de D'us. Entre outras coisas que lembramos nessa canção está o conhecimento de que D'us é Aquele que guerreia por nós. "HaShem ish milchama, HaShem shemo". "D'us é um homem de guerras, D'us é o seu nome". Na continuação da parashá também lemos sobre a primeira guerra (e consequentemente, a primeira vitória) propriamente dita do povo judeu: a guerra contra Amalek.
Aproveitando esse cenário de fundo, o rabinato chefe de Israel decretou que esse Shabat seria dedicado para agradecer a D'us pelos milagres que Ele realizou nessa última guerra, no mês passado, em Gaza. Passei o Shabat em Kriat Arba, ao lado de Chevron. Após a reza de Kabalat Shabat e Arvit, fomos jantar com a família, e depois, mais tarde voltamos a sinagoga para cantar algumas músicas (conhecidas pelos sefaradim como "Bakashot"). Após aquecermos as gargantas, preparamos os ouvidos para escutar as histórias de alguns soldados que estiveram em Gaza.
Não importa quantos milagres escutemos, sempre é chocante escutá-los de primeira mão. Um soldado comentou que em um dado momento, na primeira semana da guerra atiraram granadas contra o seu destacamento. Ele contou, que ele próprio foi pego de surpreso e não teve reação naquele instante. Porém as granadas não explodiram. Outro deles contou que o seu destacamento havia sido designado para invadir Gaza na primeira noite da guerra, porém por problemas técnicos a invasão foi adiada até a manhã seguinte. Conforme os soldados foram avançando no dia seguinte, puderam distinguir fios elétricos espalhados no meio do vinhedo por onde eles avançavam. Assim que se deram conta, começaram a recuar: explosivos. Quando haviam conseguido atingir uns 100 metros de distância, escutaram as cargas explodindo: 7 delas de vários lugares simultaneamente. Ele contou que vários soldados foram jogados ao ar devido a força da explosão (e muitos viram as armas escaparem de suas mãos), porém apenas dois se feriram levemente. Seria impossível distinguir os fios no meio da noite.
Outro soldado contou que o seu comandante, não religioso, chegou para o seu destacamento no primeiro dia da guerra com um pacote cheio de tzitziot: "Ninguém entra em Gaza sem vestir um tzitzit antes! Isso irá nos proteger!". De acordo com ele, inclusive dois soldados voluntários peruanos (que não eram judeus) também vestiram os tzitziot. No fim do segundo dia dos combates quando puderam descansar, puderam perceber que havia furos de balas nas suas armas (no "cat", a parte de trás do fuzil, que é apoiada no ombro, a alguns centímetros da carótida e da jugular).
Milagres atrás de milagres... A palavra para milagre em hebraico é "nes". "Nes" também significa mastro. Algo que pode ser visto à distância. Através dos milagres, D'us acena para todos que ele está ali atrás.

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